quarta-feira, 27 de agosto de 2008

O difícil é acostumar se à solidão.


A menina das mãos geladas e olhar vagante.

A menina que passa por todos e não é notada, é aquela também que é facilmente substituída.

A menina que gosta de música triste, que sonha em aprender a tocar piano, ela vai vendo seus sonhos ficarem para segundo plano.

A menina que teve em suas mãos dons temporários e que nunca foram notados.

Cheia de peculiaridades, cheia de sofrimento sem causa aparente.

A das pernas tortas, a que não sabe o que quer ser na vida.

É aquela menina que não te prende e não deixa você curioso pra saber mais dela.

É aquela que você não corre atrás, é aquela que você esquece que conhece de tão insignificante que ela é.

Aquela coadjuvante de uma tragédia, onde é só ela que morre no final.



Escutando: Pink floyd e todas as músicas possíveis do mundo.

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Histórias p/ criança não dormir#2


#A sete palmos

“Você tem que ser frio, é seu trabalho.” Nunca chorei em serviço, nem quando enterrei meu pai; ele trabalhava aqui mesmo nesse cemitério comigo, onde os espíritos às vezes não descansam.

Meu avô trabalhou aqui, meu pai e agora eu; sempre tive interesse pela morte e às vezes eu brinco que não fui eu que escolhi esse trabalho e sim ela que o escolheu pra mim.

Meu pai sempre dizia que nós coveiros temos que ser invisíveis, a regra era simples: “Faça seu trabalho e vá embora, não demonstre nenhum sentimentalismo; eles não te pagam pra chorar.”.

Hoje eu moro no cemitério, o casebre fica bem ao fundo do terreno. Ele é meio velho, sujo e frio, mas é perfeito para as minhas condições: Tem uma cama, cozinha, banheiro e é barato.

Uma vez uma mulher me perguntou se eu não tinha medo de morar ali, e eu respondi que não é claro. Então ela perguntou:

_ Você nunca viu nada aqui, espíritos essas coisas?

_ Não minha senhora, aqui é tranqüilo. O máximo que eu vejo aqui são alguns gatos e corvos, nada de muito assustador.

_ Você precisa se proteger meu caro homem, tome esse terço.

_Olha eu não sou muito religioso, talvez eu não deva aceitar.

_Não não, segure isso. Quando menos você esperar vai precisar de uma ajuda de Deus, mais cedo ou mais tarde.

Eu aceitei, o que eu não podia imaginar é que aquela mulher estava certa.

Uma semana depois desse ocorrido eu recebi uma urna de um policial, ele me disse pra enterrar aquilo ali em algum lugar porque já estava criando teia na prateleira do departamento de policia. Eu enterrei há três passos de uma árvore em frente a minha casa, achei toda aquela história muito estranha, mas não quis fazer muitas perguntas.Eu estava apenas seguindo ordens.

Quando fui dormir senti uma sensação estranha, mas eu ignorei e deitei.

Passados alguns minutos eu escutei um choro, eu logo me levantei e acendi a luz.

Procurei, procurei na casa toda e não vi nada, cheguei até sair e olhar em direção ao cemitério, e não tinha ninguém ali a não ser eu.

Eu já não conseguia mais dormir, as sombras se misturavam e toda hora eu parecia enxergar alguma coisa naquela escuridão.

Senti alguém sentar na cama; meu corpo travou. Eu não conseguia virar e olha o que era, meu corpo suava frio e eu comprimia os olhos com toda a força.

Até que eu senti uma mão alisar a minha cabeça, era estranho, mas incrivelmente aquilo me fez ficar calmo.Então eu virei e olhei, lá estava ela: Seus cabelos negros, sua pele pálida, ela usava um vestido roxo e estava descalça; ela era linda.

Parecia ter seus 20 anos, eu lembro dela olhando bem no fundo dos meus olhos...como se ela me penetra se. Ela ficou ali do meu lado a noite toda me olhando e eu acabei adormecendo ao lado daquela dama.

No outro dia eu acordei assustado, eu me recordava do acontecido; só não sabia se tudo aquilo havia sido um apenas um sonho ou se de fato aquele belo espírito havia aparecido pra mim.

Então todas as noites ela aparecia pra mim, ela não falava nada, ela só ficava ali a me olhar.

Certa noite ela não apareceu, eu achei estranho, me achei um louco por sentir falta de uma coisa que nem se quer podia me dar prazeres carnais, eu decidi que eu tinha que conhecer novas pessoas, talvez arranjar até uma namorada de verdade.

Na noite seguinte eu me arrumei, coloquei a jaqueta que meu pai havia me deixado e fui até um clube que ficava duas ruas acima do cemitério.

Eu chegar lá eu sentei no balcão, pedi um conhaque e fiquei observando as pessoas.

Eu avistei uma dama, ela era alta, seios volumosos e cabelos negros.

Eu chamei o garçom e pedi que ele entrega se uma bebida pra ela, por minha conta é claro. Por incrível que pareça ela olhou pra mim e sorriu, e eu fui até lá conversar com ela.

_Gostou da bebida?

_ Ela está muito boa, obrigada.

_Então, como você se chama?

_Margarida e você?

_Luiz Henrique, ao seu dispor.

Ela era uma boa menina, mas eu realmente acho que ela nunca havia bebido tanto na vida dela; quando ela ia me contar as coisas o dedo dela ficava rodando devido ao seu estado de embriaguez. Confesso que eu ri muito naquela noite; eu realmente estava precisando me divertir.

A casa dela ficava na Rua 3, bem pertinho dali e então eu me ofereci para leva lá em casa.

Ao chegar na casa dela ela sugeriu que eu entrasse, e eu disse:

_Não posso, o que seus pais vão achar de um rapaz de madrugada na casa deles?

_Eles não estão em casa seu bobo, e eu não quero dormir sozinha...eu tenho medo.

Diante de um convite tão tentador daquele eu me via encurralado, então eu fui e aceitei.

Ela me beijou, e eu a levei a perdição. Na primeira vez que eu sentia o calor da carne tudo pra mim era novidade, eu senti de verdade; eu podia ficar ali a minha vida inteira.

Cedo eu logo me levantei, a beijei na testa e corri para o cemitério. Aquele dia ia ser longo e cansativo, ainda mais pelo fato de eu ter ficado acordado a maioria da madrugada.

Margarida me vinha a cabeça todos os minutos, eu tinha que me encontrar com aquela mulher de novo; minha felicidade agora dependia dela.

Logo à noite na cama eu cruzei os braços e fiquei a pensar nela, quando eu escuto aquele choro novamente.

Lá estava aquela menina pálida, ela chorava e me olhava com tristeza.

Eu fui até ela, e as janelas começaram a bater, as portas acompanhavam também e ela me olhava com ódio agora.

Tudo ficou calmaria de um minuto para o outro e ela desapareceu, eu fiquei pasmo.

Fiquei a beira da cama pensado como era possível acontecer essas coisas comigo, um espiríto se apaixonara por mim, e eu de fato não me apaixonei por ele.

Eu acordei no chão, com meu corpo dolorido, eu não lembrava nem da hora que eu havia adormecido; levantei e fui trabalhar.

Ao entardecer eu avistei margarida no portão, eu corri com um sorriso nos lábios e fui falar com ela.

_Oi, vim ver você...mesmo eu morrendo de medo desse lugar.

_ É eu sei que assusta, mas fico feliz pela sua coragem. Seus pais voltaram?

_ Eles chegaram essa manhã. Eu preciso falar uma coisa com você...

_Eu já sei o que é, não precisa falar nada. Diga aos seus pais que vou casar com você; sei que é algo precipitado, mas diante de tais circunstancias... Eu só quero ser feliz ao seu lado.

_Você quer se casar comigo? Meu deus...eu nem acredito nisso. Eu também quero ser feliz ao seu lado, pro resto da vida...

Eu a segurei bem forte entre meus braços e nós nos beijamos naquele fim de tarde.

No dia seguinte eu fui enterrar um corpo que havia acabado de chegar. A família estava desesperada, nunca vi tantas pessoas num funeral.

Enquanto eu cavava a cova eu observava o caixão chegando ao meu encontro, mais um dia, mais um funeral.

Foi quando eu a vi, ali dentro daquele caixão. Pálida como aquela outra menina do quarto, eu larguei a pá e chorei.

_ Essa é a Margarida?

_Você a conhecia? Eu sou um amigo de escola dela, ontem de tardezinha ela foi atropelada por um carro na rua de cima.

_ Eu a conhecia... Eu a amava...

_Todos nós a amávamos, foi um acidente terrível.

Eu fui caminhando sem rumo pelo cemitério, pra longe...

Quando eu a vi, a menina do quarto, ela estava embaixo daquela árvore em frente a minha casa... Ela ria pra mim.

Era como se ela tivesse conseguido o que ela queria, a morte da minha amada...

Eu tirei o terço do bolso, fechei os olhos e rezei. Ela foi embora.

No outro dia de manhã eu desenterrei aquela urna e paguei um enterro cristão pra ela, depois disso eu nunca mais a vi.

Mas ela me tirou a vida, meu único amor.

Hoje sou casado e tenho 2 filhos, ainda sou coveiro...eu tenho uma mulher boa, ela parece gostar de mim, a vida é até feliz, mas desde aquele dia me falta algo.

Todas as tardes eu vou pra uma ponte que fica ali pertinho, e fico a sonhar com aquela minha flor...hoje já morta.

Com a vida arrancada pela morte traiçoeira, e ainda hoje eu vivo a chorar pelo meu amor.

terça-feira, 19 de agosto de 2008

Autenticidade ás avessas.


Havia uma senhorita, se é que posso usar dessa tamanha delicadeza para me referir a ela, e ela me persegue.

Não importa se eu esteja aqui ou em outro mundo distante, ela insiste em me perseguir e imitar minhas ações.

É como se fosse minha própria sombra, não bastando o fato de ela ter copiado a cor do meu cabelo e minhas roupas, agora ela quer roubar minhas idéias e minha personalidade.

Feliz eu seria se isso que eu estou relatando se tratasse de um texto subjetivo e que a idéia fosse que eu não estaria falando de uma pessoa e sim da falta de algo ou do desgaste que acompanha o tempo, ou até mesmo de um ser imaginário; mas essa pessoa existe.

Burra fui, por tantos anos não perceber a maçã podre no cesto e por esquecer que ficando ao lado dela a tendência era o meu apodrecimento também.

Mas as coisas ruins que aprendi com ela pouco a pouco vão sumindo, dando lugar a coisas novas e boas que aprendi com pessoas que conheci recentemente na minha vida.

Bem me sinto por ver que ela nada evoluiu e sim regrediu, deve ser duro pra uma pessoa ter parado no tempo; imagina você perder seu tempo pra tentar aprender algo e no fim isso não acrescentar nada na sua vida, deprimente.

No fim me sinto superior (me desculpem, mas é como eu me sinto.), mas o pior é que ela que é culpada por esse sentimento, ela que copiou meu modo de falar, de escrever, de se vestir e tudo mais; isso mostra claramente que eu sou legal de uma forma geral, Durrrrr porque VOCÊ me copia!

# Obrigado a todos que lêem esse blog, no final acaba não sendo tudo aquilo que eu esperava, mas, sobretudo é sincero.

terça-feira, 12 de agosto de 2008

# Vale a pena assistir.

http://www.youtube.com/watch?v=oDigaWrvCq4&eurl=http://bombounaweb.com.br/colunaepoca/
Adorei o vídeo, muito bom!
A desenvoltura do Kev Jumba é impressionante, ele fica muito à vontade na frente da câmera.

THINK BIG

Passando por um momento não muito criativo, cheio de decisões a serem tomadas e coisas para se fazer.
Um viva pra mim que decidi tirar carteira de motorista( estou depositando todas as soluções dos meus problemas nisso), que é um passo muito grande na minha vida.
E semana que vem começam as aulas do prevest, vamos tentar ai mais uma vez.
Tudo movido a boas pitadas otimistas, pensamentos e desejos GIGANTES.

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

8 ou 80

quem sou eu: QUEM CONHECE APRECiA =0**

quem sou eu:²

SWINGÃO.

Livros: código da Vinci

filmes:

Rocky I, II, III, IV, V, velozes e furiosos1 e 2, um amor pra recordar e um montão ai véi.

música:

DIABADÁ ;]

atividades:

Malhar!

paixões:

Flamengo!



X


Quem sou eu:

Escalafobético, esboço de gente, estabanado, escarnecedor, escravo de minhas paixões, esfaimado por leitura, especialista em porra nenhuma, ex-espermatozóide, espontâneo, esquisito, estrambótico, assumindo-me escritor.

música:

Chopin, Frédéric François
J.S.Bach
L.V.Beethoven
Bach Johann Christian
Brahms, Johannes
Dvorák, Antonin
Haendel, Georg Friedrich
Haydn, Franz Joseph
Johann Strauss
Liszt, Franz
Mahler, Gustav
Mozart, Wolfgang Amadeus
Paganini, Nicollo
Piazzolla, Astor
Rachmaninov, Sergei Vassilievich
Rimski-Korsakov, Nikolai
Rossini, Gioacchino A.
Saint-Saëns, Camille
Scarlatti, Domenico
Schubert, Franz
Schumann, Robert
Shostakovich, Dmitri
Stravinsky, Igor
Tchaikovsky, Piotr Ilitch
Telemann, Georg Philipp
Verdi, Giuseppe
Villa-Lobos, Heitor
Vivaldi, Antonio
Wagner, Wilhelm Richard
Miles Davis
Coltrane
Chet Baker
Charles Mingus
Dave Brubeck
Thelonious Monk
Benny Goodman
Arturo Sandoval
Wynton Marsalis
Dizzy Gillespie
Art Farmer
Charlie Parker
Joe Henderson
Lester Young
Stanley Turrentine
Stan Getz
Oscar Peterson
Duke Ellington
Bill Evans
Cole Nat King
Nina Simone
Horace Silver
Fletcher Henderson
Dinah Washington
Ibrahim Abdullah
Billie Holiday
Diana Krall

paixões:

meus cds de música, meus livros

livros:

O Senhor dos Anéis,O Retrato de Dorian Grey.

O xogum de James Clavell

livros:²

1.Cem anos de Solidão,
2.O Amor nos tempos de Cólera, Gabriel Garcia Marques. 3. Dom Quixote, Cervantes; 4. A Festa Do Bode, 5. Pantaleão e as Visitadoras, Vargas LLosa; 6. O Nome da Rosa, Umberto Eco; 7. A casa Dos Espíritos, Isabel Allende; 8. Os Sertões, Euclides da Cunha; 9. Dom Casmurro, 10. Memórias Póstumas de Bras Cubas, Machado de Assis; 11. São Bernardo, Graciliano Ramos; 12. O Perfume, Patrick Suskind; 13. Os Maias, 14. o Crime do Padre Amaro, 15. Eça de Queiroz; 16. Dr. Jivago, Boris Pasternak; 17. Lolita, Vladmir Nabocov; 18. O Grande Gatsb, F.SCOTT FITZGERALD; 19. O Idiota, 20. os Irmãos Karamasov, 21. Crime e Cstigo, Dostoiewisk; 22. Madame Bovary, Gustave Flaubert; 23. Sidarta, Herman Hesse; 24. Miseráveis, Victor Hugo; 25. Fim de Caso, GRAHAM GREENE; 26. Papillon, HENRI CHARRIERE; 27. O Conde de Monte Cristo, Alexandre Dumas; 28. O Vermelho e o Negro, Sthendal; 29. Amor de Perdição, Camilo Castelo Branco; 30. Aparição, Vergílio Ferreira; 31. O Retrato de Dorian Gray, Oscar Wilde; 32. Elogio

programas de tv:

Só jornalismo e Documentários

atividades:

Juridicas

filmes:

AKA: os filmes em negrito na minha lista...São MTOS, mtos msm.Curto o sadismo do Tarantino, a loucura do Fellini,a ARTE de Welles,as sombras de Bergman, as cores de Almodovár,os roteiros de Kauffman,o Maravilhoso Mundo de Disney(e o de Oz),os italianos de Coppola,a mágica de Geogre Lucas, a mais mágica ainda de Peter Jackson,o "romantismo" de Bogart,o "romantismo" de Gable,o romantismo de Moulin Rouge,comédias romanticas bobas,a fotografia de Soderbergh,tdas as atuaçoes do Johnny Depp,a ultraviolência de Kubrick,o humor de Guy Richie, a acidez de Michael Moore.,os temas de Fritz Lang,o nonsense do Robert Rodrigues,os excluidos de Tim Burton...AMO CINEMA UÉ!

Obs: generalizações, apenas generalizações.

Obs²: Sim, tudo isso foi tirado de perfis no orkut.

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Histórias p/ criança não dormir.#1

#Dias melhores não existem.


Eu, pobre de mim. Sinto-me tão sozinho agora que conversaria com aquele vira lata que eu chutei ontem. A vida não é fácil quando se tem tudo e de uma hora pra outra não se tem mais nada, eu não queria ser um pobre coitado... Mas a verdade é que eu sou um.

Acordei ensopado de suor em uma noite de Março de 1964 eu sonhava com a guerra.
Eu estava lá com aquela tropa e não sabia se ia voltar, eu tinha medo.
Na verdade eu não sabia ao certo os motivos daquela guerra, eu só estava lá defendendo o meu país, e se eu quisesse me informar de alguma coisa isso me custaria umas boas punições.
O nosso treinamento era bem longe da realidade que estava por vir, eu tenho que confessar que havia certas horas que eu não sabia o que fazer.
Antes do nosso primeiro ataque ainda me lembro de alguns soldados falando:

_ Atire nos de olhos puxados, cabelo liso e de pele escura.

_George são só japoneses morenos, só isso.

_Japoneses? Eles são vietnamitas seu burro.

_ Dá no mesmo, nós vamos matá-los não é? Então dá no mesmo.

O clima era quente, eu me sentia sufocado naquele lugar sujo.
Havia muitos mosquitos, a comida não era das melhores.
Eu queria voltar pra casa, nunca havia sentido tantas saudades dos meus pais, do meu cachorro e daquela menina que me esperava.
Ela era loira, os cabelos não muito longos e cacheados. Ela era filha do Will o fazendeiro, eles plantavam morango e por suposto ela tinha o cheiro daquela fruta.
Um dia antes de eu deixar minha casa rumo à guerra ela me entregou uma foto, era ela com aquele vestido branco de renda que eu adorava, eu coloquei a foto no bolso e dei nosso primeiro e último beijo.

Atrás da foto estava escrito:

Me leve junto ao seu coração.

Eu ficarei esperando a sua volta, com amor Lyla.

Quando eu começava a esquecer o seu rosto eu começava a entrar em desespero e pegava aquela foto e ficava olhando por horas.
A verdade é que aquela foto não iria conseguir me salvar daquele terror.


Já se passavam das 14h e o batalhão ainda estava caminhando por entre aquela mata, todos estavam famintos e cansados. A nossa missão era chegar a uma aldeia e prender alguns vietnamitas e é claro matar a maioria, não havia restrições sobre matar mulheres e crianças.
Eu não tinha idéia do estava por vir, eu nunca havia matado ninguém, isso ainda não era tão fixo na minha cabeça.

Eram tantos gritos, nosso batalhão colocou fogo em tudo.Pelas estradas de barro eu podia observar as mulheres correndo com várias crianças, muitas delas eram acertadas pelas costas e poucas conseguiram fugir.

Eu fiquei parado, eu não sabia o que fazer. Eles diziam:

_ Vai John!!! O que você está fazendo cara!? Atira!!!!

_Você vai morrer John!

Assim que um tiro acertou de raspão meu braço eu acordei, eu comecei a correr na direção contrária.
Eu ia correndo de encontro à estrada de barro, “eu ia ser morto, eu ia ser morto”, Eu só pensava nisso.
Eu dei de cara com uma menininha, ela estava nua e ela gritava sem parar.
Eu não pensei, eu só fiz. Eu a agarrei e corri em direção a floresta. Eu não entendia nada do que ela estava gritando, coloquei-a debaixo de uma árvore não muito longe dali, fiz um sinal para que ela ficasse em silêncio e então eu corri de novo.

Um soldado me pegou pelo braço e me disse:

_ Pega nessa arma e atira! Se você não atirar eu vou te matar, eu juro!

Eu comecei a atirar nos nossos supostos inimigos, eu mirava e atirava de olhos fechados.
Na verdade foi um milagre eu ter sobrevivido a aquele conflito...
Nos havíamos destruído toda a aldeia, ao longe eu podia ver alguma pessoas correndo, mas o que havia ficado ali estava morto e destruído.

Enquanto todos estavam destraídos recolhendo comida e algumas armas eu fui ao encontro daquela menininha.
De longe eu podia ver que ela não se mexia mais, sua cabeça estava destroçada por um tiro.
Eu fiquei ali chorando com ela nos meus braços, desde aquele dia minha vida ficou como aquela aldeia em chamas.
Eu dormi ao lado daquele corpo, eu não queria mais voltar pra casa e nem sair debaixo daquela árvore.

No dia seguinte a tropa vizinha me encontrou, eu estava tendo alucinações.
Eles me levaram a força e eu fui mandado de volta para minha casa...não era saudável tem um soldado maluco na tropa.
Meus pais me submeteram a vários tratamentos, mas de nada adiantou.
Eu tinha e ainda tenho pesadelos daquele dia, em alguns eu consigo salvar aquela menininha e outros ela acaba morrendo como naquele dia.

Lyla tinha medo de mim, chegou até a pedir que eu devolvesse a sua fotografia.
Eu era um peso na minha casa, eu não estudava, não trabalhava e não falava com ninguém e então eu decidi partir.
Eu sai de casa depois do almoço e ninguém percebeu, eu fui morar na rua.
Agora eu estou numa praça, algumas pessoas me dão comida, mas a maioria delas tem medo de mim.As vezes eu escuto: “Aquele ali era o filho dos Echelon’s, o pobrezinho endoidou.”

É na verdade eu nem sei como eu consegui escrever tudo isso aqui em um caderno velho que eu achei, talvez eu nem seja tão louco assim, sabe como eu sei disso?
Porque eu me considero um louco, e o verdadeiro louco nem ao menos percebe que é um.

V A L E N T I N A.

V A L E N T I N A.