sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Histórias p/ criança não dormir#2


#A sete palmos

“Você tem que ser frio, é seu trabalho.” Nunca chorei em serviço, nem quando enterrei meu pai; ele trabalhava aqui mesmo nesse cemitério comigo, onde os espíritos às vezes não descansam.

Meu avô trabalhou aqui, meu pai e agora eu; sempre tive interesse pela morte e às vezes eu brinco que não fui eu que escolhi esse trabalho e sim ela que o escolheu pra mim.

Meu pai sempre dizia que nós coveiros temos que ser invisíveis, a regra era simples: “Faça seu trabalho e vá embora, não demonstre nenhum sentimentalismo; eles não te pagam pra chorar.”.

Hoje eu moro no cemitério, o casebre fica bem ao fundo do terreno. Ele é meio velho, sujo e frio, mas é perfeito para as minhas condições: Tem uma cama, cozinha, banheiro e é barato.

Uma vez uma mulher me perguntou se eu não tinha medo de morar ali, e eu respondi que não é claro. Então ela perguntou:

_ Você nunca viu nada aqui, espíritos essas coisas?

_ Não minha senhora, aqui é tranqüilo. O máximo que eu vejo aqui são alguns gatos e corvos, nada de muito assustador.

_ Você precisa se proteger meu caro homem, tome esse terço.

_Olha eu não sou muito religioso, talvez eu não deva aceitar.

_Não não, segure isso. Quando menos você esperar vai precisar de uma ajuda de Deus, mais cedo ou mais tarde.

Eu aceitei, o que eu não podia imaginar é que aquela mulher estava certa.

Uma semana depois desse ocorrido eu recebi uma urna de um policial, ele me disse pra enterrar aquilo ali em algum lugar porque já estava criando teia na prateleira do departamento de policia. Eu enterrei há três passos de uma árvore em frente a minha casa, achei toda aquela história muito estranha, mas não quis fazer muitas perguntas.Eu estava apenas seguindo ordens.

Quando fui dormir senti uma sensação estranha, mas eu ignorei e deitei.

Passados alguns minutos eu escutei um choro, eu logo me levantei e acendi a luz.

Procurei, procurei na casa toda e não vi nada, cheguei até sair e olhar em direção ao cemitério, e não tinha ninguém ali a não ser eu.

Eu já não conseguia mais dormir, as sombras se misturavam e toda hora eu parecia enxergar alguma coisa naquela escuridão.

Senti alguém sentar na cama; meu corpo travou. Eu não conseguia virar e olha o que era, meu corpo suava frio e eu comprimia os olhos com toda a força.

Até que eu senti uma mão alisar a minha cabeça, era estranho, mas incrivelmente aquilo me fez ficar calmo.Então eu virei e olhei, lá estava ela: Seus cabelos negros, sua pele pálida, ela usava um vestido roxo e estava descalça; ela era linda.

Parecia ter seus 20 anos, eu lembro dela olhando bem no fundo dos meus olhos...como se ela me penetra se. Ela ficou ali do meu lado a noite toda me olhando e eu acabei adormecendo ao lado daquela dama.

No outro dia eu acordei assustado, eu me recordava do acontecido; só não sabia se tudo aquilo havia sido um apenas um sonho ou se de fato aquele belo espírito havia aparecido pra mim.

Então todas as noites ela aparecia pra mim, ela não falava nada, ela só ficava ali a me olhar.

Certa noite ela não apareceu, eu achei estranho, me achei um louco por sentir falta de uma coisa que nem se quer podia me dar prazeres carnais, eu decidi que eu tinha que conhecer novas pessoas, talvez arranjar até uma namorada de verdade.

Na noite seguinte eu me arrumei, coloquei a jaqueta que meu pai havia me deixado e fui até um clube que ficava duas ruas acima do cemitério.

Eu chegar lá eu sentei no balcão, pedi um conhaque e fiquei observando as pessoas.

Eu avistei uma dama, ela era alta, seios volumosos e cabelos negros.

Eu chamei o garçom e pedi que ele entrega se uma bebida pra ela, por minha conta é claro. Por incrível que pareça ela olhou pra mim e sorriu, e eu fui até lá conversar com ela.

_Gostou da bebida?

_ Ela está muito boa, obrigada.

_Então, como você se chama?

_Margarida e você?

_Luiz Henrique, ao seu dispor.

Ela era uma boa menina, mas eu realmente acho que ela nunca havia bebido tanto na vida dela; quando ela ia me contar as coisas o dedo dela ficava rodando devido ao seu estado de embriaguez. Confesso que eu ri muito naquela noite; eu realmente estava precisando me divertir.

A casa dela ficava na Rua 3, bem pertinho dali e então eu me ofereci para leva lá em casa.

Ao chegar na casa dela ela sugeriu que eu entrasse, e eu disse:

_Não posso, o que seus pais vão achar de um rapaz de madrugada na casa deles?

_Eles não estão em casa seu bobo, e eu não quero dormir sozinha...eu tenho medo.

Diante de um convite tão tentador daquele eu me via encurralado, então eu fui e aceitei.

Ela me beijou, e eu a levei a perdição. Na primeira vez que eu sentia o calor da carne tudo pra mim era novidade, eu senti de verdade; eu podia ficar ali a minha vida inteira.

Cedo eu logo me levantei, a beijei na testa e corri para o cemitério. Aquele dia ia ser longo e cansativo, ainda mais pelo fato de eu ter ficado acordado a maioria da madrugada.

Margarida me vinha a cabeça todos os minutos, eu tinha que me encontrar com aquela mulher de novo; minha felicidade agora dependia dela.

Logo à noite na cama eu cruzei os braços e fiquei a pensar nela, quando eu escuto aquele choro novamente.

Lá estava aquela menina pálida, ela chorava e me olhava com tristeza.

Eu fui até ela, e as janelas começaram a bater, as portas acompanhavam também e ela me olhava com ódio agora.

Tudo ficou calmaria de um minuto para o outro e ela desapareceu, eu fiquei pasmo.

Fiquei a beira da cama pensado como era possível acontecer essas coisas comigo, um espiríto se apaixonara por mim, e eu de fato não me apaixonei por ele.

Eu acordei no chão, com meu corpo dolorido, eu não lembrava nem da hora que eu havia adormecido; levantei e fui trabalhar.

Ao entardecer eu avistei margarida no portão, eu corri com um sorriso nos lábios e fui falar com ela.

_Oi, vim ver você...mesmo eu morrendo de medo desse lugar.

_ É eu sei que assusta, mas fico feliz pela sua coragem. Seus pais voltaram?

_ Eles chegaram essa manhã. Eu preciso falar uma coisa com você...

_Eu já sei o que é, não precisa falar nada. Diga aos seus pais que vou casar com você; sei que é algo precipitado, mas diante de tais circunstancias... Eu só quero ser feliz ao seu lado.

_Você quer se casar comigo? Meu deus...eu nem acredito nisso. Eu também quero ser feliz ao seu lado, pro resto da vida...

Eu a segurei bem forte entre meus braços e nós nos beijamos naquele fim de tarde.

No dia seguinte eu fui enterrar um corpo que havia acabado de chegar. A família estava desesperada, nunca vi tantas pessoas num funeral.

Enquanto eu cavava a cova eu observava o caixão chegando ao meu encontro, mais um dia, mais um funeral.

Foi quando eu a vi, ali dentro daquele caixão. Pálida como aquela outra menina do quarto, eu larguei a pá e chorei.

_ Essa é a Margarida?

_Você a conhecia? Eu sou um amigo de escola dela, ontem de tardezinha ela foi atropelada por um carro na rua de cima.

_ Eu a conhecia... Eu a amava...

_Todos nós a amávamos, foi um acidente terrível.

Eu fui caminhando sem rumo pelo cemitério, pra longe...

Quando eu a vi, a menina do quarto, ela estava embaixo daquela árvore em frente a minha casa... Ela ria pra mim.

Era como se ela tivesse conseguido o que ela queria, a morte da minha amada...

Eu tirei o terço do bolso, fechei os olhos e rezei. Ela foi embora.

No outro dia de manhã eu desenterrei aquela urna e paguei um enterro cristão pra ela, depois disso eu nunca mais a vi.

Mas ela me tirou a vida, meu único amor.

Hoje sou casado e tenho 2 filhos, ainda sou coveiro...eu tenho uma mulher boa, ela parece gostar de mim, a vida é até feliz, mas desde aquele dia me falta algo.

Todas as tardes eu vou pra uma ponte que fica ali pertinho, e fico a sonhar com aquela minha flor...hoje já morta.

Com a vida arrancada pela morte traiçoeira, e ainda hoje eu vivo a chorar pelo meu amor.

10 comentários:

Daniel Seixas disse...

Que isso!!!
ADOREI o texto. Muito rox.
Me segurei na cadeira ao ler.
Parabéns.

Comentador Fiel disse...

tem pessoas que dão uns amassos no primeiro encontro

tem pessoas que transam no primeiro encontro

tem pessoas que se casam no primeiro encontro.

bom texto

John, O Lobo disse...

Caraca, ótimo texto!
E a menina pálida lá devia ser nerd.
Nem depois de morta alguém gosta dela heheh

Daniel Seixas disse...

"E a menina pálida lá devia ser nerd.
Nem depois de morta alguém gosta dela"

=´[

Comentador Fiel disse...

"E a menina pálida lá devia ser nerd.
Nem depois de morta alguém gosta dela"

=´[

/2/

Unknown disse...

polêmica ahuah
Coitada, ela não era nerd...apenas mal amada ahuha

Daniel Seixas disse...

Isso quer dizer que nerds podem ser amados?

Comentador Fiel disse...

não!

espero ter ajudado

Unknown disse...

Claro que podem, nossa Gustavo u.u

Comentador Fiel disse...

tava de brinks hihihi

V A L E N T I N A.

V A L E N T I N A.