sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Traga-me mais chá, por favor.# 4 (Final)


Chegou o grande dia, os convidados, o bolo, o altar...
Tenho que confessar que ela estava linda, mas não eram cabelos loiros que eu avistava no altar e sim cabelos pretos. Eu pensei: “Melhor assim...”.
Satomi tinha um ar mais contemporâneo, usava sapatos bico fino, seu cabelo quase sempre preso, aquele ar de intelectual me seduziu quando a conheci.
Logo após meu termino com N. minha família fez uma festa lá em casa com a desculpa de retribuir umas visitas, mas tudo já estava planejado. Satomi, filha de uma amiga da mamãe. Eu nunca tinha chegado a conhecê-la, só escutava muito sobre ela; de como ela era bonita, de como era trabalhadora....essas coisas que mãe fala pro filho ficar interessado na moça e casar logo.
O fato é que ela era de fato uma pessoa agradável, muito educada e tinha um ar libertino diferente de todas as orientais que eu já havia conhecido, com isso eu deixava de ver a pobre mulher de baixa estatura trabalhando na cozinha e servindo meu chá. Eu gostei dela, de verdade.
Começamos a sair e acabamos em um namoro, que acabou em um noivado, e tudo isso em 8 meses. Eu sei que o tempo foi curto, mas tudo já estava pronto. Nós tínhamos um trabalho e dinheiro pra comprar nosso lugar, então a minha família e a dela falavam: “ O que estão esperando? Se casem e sejam felizes de uma vez.”
Fiquei sabendo que N. foi ao meu casamento, nem cheguei a vê-la. Quando me disseram isso eu fiquei um tanto quanto surpreso, pois ela jurou que nunca mais queria ver meu rosto depois que acabamos.
É intrigante, será que ela ainda me amava?Será que não tinha conseguido me esquecer depois de 1 ano?
O fato é que isso até me perturbou, porque por mais que eu tivesse longe dela eu tinha vontade de conversar com ela, de ver seus olhos novamente.
Mas que pensamento mais inadequado para um homem que agora é casado, então eu me proibi de pensar nela.
A vida de casado era agradável, Satomi chegava do trabalho na mesma hora que eu, nós fazíamos nosso jantar, assistíamos filmes, escutávamos música, riamos o tempo todo, eu amava aquela mulher. Todos estavam felizes com ela, minha mãe vinha me visitar todos os finais de semana, ela dizia que se não fosse por ela eu nunca teria casado com uma pessoa tão maravilhosa, que eu tinha que agradecer todos os dias pela mulher que eu tinha.
Eu já não esperava a hora de ter meus filhos, eu falava com Satomi e ela meio que desviava do assunto sempre; eu compreendia.
Três meses de casamento, é dizem que o começo sempre é bom e foi muito bom.
Uma noite após o trabalho eu cheguei e reparei que ela não havia chegado ainda, eu liguei pra ela.
_T. , não se preocupe. Estou com a mamãe fazendo comprar, vou chegar um pouco mais tarde.
Eu fui preparar o jantar, resolvi fazer uma pizza. Quando dei por mim não havia tomates na geladeira e eu fui logo atrás de algum lugar pra comprar.
Eu estava saindo do supermercado quando eu avistei seu carro do outro lado da rua, de frente a um restaurante chamado “La bella luna”. Eu me aproximei e vi que realmente era o carro de Satomi, então eu entrei no restaurante e lá estava ela.
Enquanto o garçom corria atrás de mi perguntando se eu havia feito alguma reserva eu me direcionava a ela, quando eu fui me sentar a sua frente um loiro puxou meu braço e falou:
_ Ei cara, ela está comigo.
Eu tirei sua mão do meu braço, coloquei a sacola de tomates na mesa e falei:
_ Você? Logo você? Fazendo isso comigo! Você não tem vergonha!!?
_ Eu posso explicar T.!!! Se acalme!
_Você não precisa escutar, eu tenho olhos, eu vejo!
_ Algum problema cara!?!
_ Ela é minha mulher seu idiota!
_ Calma D. ele é meu marido.
_Eu quero que vocês dois moram! Como eu sou idiota...como fui gostar de você...
Eu sai do restaurante com a sacola na mão, joguei ela pela janela e fui sem rumo...
Eu fui para em uma ponte, eu fiquei lá pensando por horas...
“Como eu não percebi? Como eu deixei isso acontecer?”
Eu sentei no carro e acabei adormecendo por lá mesmo. Com o calor da manhã eu acordei ensopado na beira da estrada, eu fui pra casa com esperanças de quem tudo aquilo havia sido um sonho estúpido e que tudo estaria bem.
Quando cheguei lá tudo estava bagunçado, ela havia levado tudo que era dela, roupas, sapatos, seus perfumes...
Nenhuma carta ela me deixou, ela me abandonou da pior forma que alguém pode ser abandonado.
O telefone tocou naquele sábado de manhã e eu atendi com vontade de que fosse alguma operadora de celular, tele marketing, qualquer pessoa que não fosse me perguntar onde estava Satomi.
_ T., como estão as coisas ai? Estava pensando em passar ai mais tarde com seu pai.
_ As coisas estão bem, vou te esperar aqui.
Eu não consegui falar a verdade, um nó estava feito na minha garganta e então eu chorei, chorei como criança em meio daquelas roupas jogadas no quarto.
Eu peguei o telefone e liguei pra minha mãe.
_ Mãe?
_T., nós já estamos saindo daqui. Acalme-se!
_ Ela me deixou mãe...Satomi me deixou...
_O que T.? Que insanidade é essa que você está falando?!
_Isso que você acabou de escutar, eu não tenho mais uma esposa.
_ Estamos a caminho, me espere. Fiquei longe do saquê, das facas e das janelas.
Minha mãe entrou com meu pai pela porta que já estava aberta esperando por eles. Eu estava jogado no chão fumando meu cigarro e olhando pro teto.
_ O que você fez pra ela T.? A traiu com aquela branquela!?
_ Não mãe, foi ela que me traiu. Foi ela!
Um silencio tomou conta do quarto. Minha mãe se encostou no guarda roupas, meu pai me olhava como se quisesse me abraçar, mas ele não o fez.
Então ele disse:
_ Meu filho arruma suas coisas, vem com a gente pra casa.
Sai com um ar de derrota de casa, com as malas nas costas eu me virei antes de entrar no carro e fiquei olhando para a casa.
_T., entra no carro...
E então eu nunca mais voltei a ver aquela casa de novo.

O chá, oferecido no oriente quando a pessoa está passando por momentos difíceis, momentos delicados. Oferece-se o chá pra amenizar essa dor, com o liquido quente entrando pelo seu corpo. Como eu preciso de um chá...muito chá para esse momento da minha vida.
Fiquei sabendo que N. se mudou pra outra cidade, ela me amava tanto ainda que não conseguia ficar aqui.
Eu queria procurá-la, mas não desse jeito. Um fracasso de pessoa.
“Minha mulher me traiu e foi embora e agora eu quero você.” Não desse jeito, nunca desse jeito.
E se eu tivesse casado com a N.? Será que eu seria mais feliz? Eu acho que sim..
Agora eu vivo por viver, sem amor pra doar, com o medo cravado no meu peito.
Sendo um peso nessa casa, talvez sozinho pro resto da vida...

Foi um prazer contar minha triste história pra vocês, T. Kanashii

5 comentários:

Comentador Fiel disse...

engraçado que os pais sempre fazem escolhas erradas nessas histórias.

Daniel Seixas disse...

Engraçado mesmo. Acredito que os pais têm muita sabedoria e que temos que prestar muita atenção em tudo que falam mas não seguir cegamente. Principalmente quando se trata de rompimentos de dogmas como no texto. Não o fazem por mal, mas por pensar que é o melhor.

"É intrigante, será que ela ainda me amava?Será que não tinha conseguido me esquecer depois de 1 ano?"
Um ano é pouquíssimo tempo.

"Eu fui preparar o jantar, resolvi fazer uma pizza. Quando dei por mim..."
No pequeno intervalo de tempo dessa parte até eu ler "não havia tomates" eu fiquei tenso pensando que ia acontecer um desastre. Depois que li a frase seguinte eu ri. hahahahaha

"Com o calor da manhã eu acordei"
*_* Shorei!

Ótimo texto. Muito boa história. Me deu vontade de escrever uma também. O.o

Tiago disse...

"Ela é mais sentimental que eu..."

Bela história!
;]
continue assim.

Fabi disse...

"Fique longe do saquê, das facas e das janelas" Sim , ficarei.
"Eu estava jogado no chão fumando meu cigarro e olhando pro teto" cara, ele é perfeito. comofas/
Cara, gostei muito da história. Me ensina?
oiehoiehieo

John, O Lobo disse...

"Fique longe do saquê, das facas e das janelas."

òtimo conselho ahuah

Muito boa a história =º

V A L E N T I N A.

V A L E N T I N A.